No meu refúgio, penso…
Penso absorto de tudo.
Penso comigo, para dentro.
Mas sempre que desperto,
tenho a impressão que em nada pensava.
Será?
Só me lembro do silêncio que me povoava
e da cortina de vidro, translúcido, de luz mole:
aquela que me impedia de sentir a agitação de fora.
Diz-se que «não estamos cá».
Estamos onde?
Pensamos e imaginamos,
viajamos.
Para onde?
Certamente «até à lua»!
É o que se diz...
Deve ser essa, pois, a minha segunda casa.
Porque a primeira, essa, sou eu:
onde me habito,
onde me isolo quando quero,
onde me vejo e onde tudo vejo,
onde sou eu,
onde penso.
A segunda, então, a lua:
para onde viajo, quando me aborreço de estar na primeira, pensando,
e por onde deambulo
na placidez e na quietude daquele areal branco.
Ver dali o sol é diferente!
(Imaginando, tudo é diferente!)
Os seus raios são mais brandos,
não ofuscam tanto,
não queimam a vista…
Vejo-lhe nitidamente o globo fogoso,
as labaredas,
os abismos quentes.
(Vejo mais além, quando imagino!)
Aqui, a quentura é tão suave, tão deliciosa...
Tudo é tão bom!
(Regressando da viagem tudo é diferente…)
Imaginando, imaginando...
abrigo(s)
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