A globalização a que vamos assistindo em todos os sectores, juntamente com a comunicação que é cada vez mais intercultural, constituem-se como dois dos factores que mudaram o paradigma em relação à profissão do tradutor. De facto, através do efeito GILT [acrónimo para Globalização (G11N), Internacionalização (I18N), Localização (L10N) e Tradução (T9N)], a profissão de tradutor foi uma das primeiras a ser globalizada. No entanto, esta mesma globalização e comunicação intercultural fará com que metade das cerca de sete mil línguas faladas em 2007 morra até ao fim deste século.
Segundo Wade Davis, antropólogo, etnobotânico e explorador residente da revista National Geographic,
"cada língua é uma floresta ancestral da mente, um manancial de pensamento, um ecossistema de possibilidades espirituais".
De facto, a língua é a mais profunda expressão de identidade de um grupo, sendo simultaneamente o meio mais eficaz de transmitir o seu rico património cultural e humano de geração em geração. No entanto, o paradoxo da globalização é que, ao mesmo tempo que promove o contacto íntimo com culturas e línguas estrangeiras (miscigenação de culturas), faz diluir a diversidade cultural existente. Neste sentido, milhares de tradições culturais e linguísticas desaparecem com a adopção/fusão/assimilação das línguas dominantes.
Segundo a edição especial da National Geographic Portugal - O Estado do Planeta (Maio de 2008) encontrado cá por casa nas arrumações,
"o processo de extinção das línguas começa por revestir a forma de discriminação e culmina em assimilação. O nosso mundo urbano e globalizado é impiedoso para milhares de línguas locais que outrora serviram como elemento de consolidação de vínculos familiares, tribais e nacionais. Na era da integração, estamos a perder elos vitais com a nossa história remota e mananciais únicos de conhecimento, sabedoria e cultura".
Das cerca de 6700 línguas existentes, 3586 são consideradas línguas pequenas, 2935 são médias e apenas 83 consideradas grandes. Na razão inversa, há 8 milhões de falantes das línguas pequenas, 1200 milhões de falantes das línguas médias, e 4500 milhões de falantes das línguas grandes. Todas essas línguas pequenas estão, portanto, ameaçadas de extinção, do grau mais reduzido para o mais severo. Note-se que à semelhança das espécies biológicas, as línguas são também mais numerosas e variadas em algumas regiões do globo, concentrando pontos de grande actividade linguística com muitas línguas ameaçadas sem qualquer relação entre si. Por exemplo, na Austrália o grau de diversidade linguística atinge 231 línguas, na Indonésia 737 e na Papua Nova-Guiné 820. Verdadeiros paraísos linguísticos e biológicos. Muitas destas línguas, faladas por aborígenes, curandeiros, grupos tribais ou outros, são autênticos repositórios de conhecimento sobre plantas medicinais, animais e minerais. Quem não gostaria de recolher, e até mesmo falar, um pouco de algo único que a globalização e a miscigenação de culturas nos está a fazer perder?
Para mais informações, consultem-se as páginas da UNESCO sobre as línguas ameaçadas, incluindo um atlas electrónico e em versão pdf (20 MB).
